19 janeiro 2009

"Não podemos ser os únicos em 100 milhões de estrelas"

Esperam-se imagens de galáxias distantes em lugares comuns como uma paragem de autocarro, telescópios montados nas ruas, planetários de portas abertas, olhares para o sol, cabeças viradas para a Lua, muitas conversas sobre estrelas e exposições. Até as forças do Universo vão ajudar e programaram para os céus de 2009 o mais longo eclipse solar a 22 de Julho, uma chuva de estrelas em Novembro e uma vista privilegiada para Júpiter em meados de Outubro. Entramos hoje, com cerimónia oficial na sede da UNESCO em Paris, no Ano Internacional da Astronomia (AIA 2009), com o lema Descobre o teu Universo, e que assinala os 400 anos da primeira observação astronómica - da Lua - realizada por Galileu. É altura de estar mais perto do céu. A iniciativa não tornará melhores as muitas missões espaciais em curso. Porém, com o objectivo de "tornar a astronomia acessível a todos e fazer perceber o contributo dessa ciência na nossa cultura e sociedade", a acção da União Astronómica Internacional - que reúne mais de dez mil astrónomos -, apoiada pela UNESCO, prevê milhares de eventos em 135 países e promete, pelo menos, muito mais atenção para esta ciência."Não é um ano internacional que vai revolucionar a astronomia, mas tenho a certeza que com esta acção de visibilidade pública vamos lançar sementes que iremos colher mais tarde", nota Pedro Russo, o coordenador internacional do AIA 2009. Talvez até mais investimento para uma área científica muito dispendiosa. Questões em aberto. Há quatro grandes questões em aberto na astronomia que merecem o consenso e se arrastam há séculos. A saber: Compreendemos os extremos do Universo? Como é que as galáxias se formam e evoluem? Como é que as estrelas e planetas se formam? Como encaixamos nisto tudo? Pedro Russo acredita que "estamos cada vez mais próximos" das respostas, mas que encontrar provas de vida extraterrestre é o que o entusiasma mais. A Nuno Santos também. O astrofísico do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto, que é co-autor da descoberta de vários planetas fora do nosso sistema solar (extra-solares), adivinha um prazo de cerca de cinco anos até à descoberta "de um planeta parecido com a Terra". Depois é preciso chegar lá para perceber se há vida. Mas, para Nuno Santos, esta aventura faz-se com a convicção de que "não podemos ser os únicos em 100 milhões de estrelas". Por coincidência, porque os planos espaciais se fazem com grande antecedência, em 2009 há missões da Agência Espacial Europeia e da NASA que visam estas áreas (a Hershel, Planck e a Kepler). Os mistérios da astronomia não se resumem à hipótese de vida extraterrestre, mas não há dúvida que esse é o assunto que mais nos inquieta e fascina, sejamos cientistas ou não. Sim, também queremos saber como tudo começou, gostamos do Big Bang, da ideia de sermos feitos da poeira das estrelas, dos misteriosos buracos negros, dos anéis de Saturno e das descrições gélidas ou tórridas de planetas distantes. É é disso tudo que vamos ouvir falar em 2009. Em Portugal o programa é apresentado em Espinho no dia 23 e o arranque oficial está planeado para 31 de Janeiro, com um concerto, na Casa da Música, no Porto. O início de um caminho para as estrelas.
Público - 15.01.2009 - Andrea Cunha Freitas

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