24 janeiro 2010

O Imperador Eucariol

Kandinsky - Several Circles
O IMPERADOR EUCARIOL
Era uma vez...
Afirmam os sábios que, há dois mil milhões de anos, rolava pelo espaço um pequeno planeta chamado GEA, possuidor de vazias terras fumegantes banhadas por um vasto mar, cálido e azul (se o céu assim fosse) rodeado de lagos e lagunas mais ou menos profundas. Este meio aquoso deixava-se perpassar pelos raios potentes da estrela mais próxima, a estrela HÉLIA, que sacrificava tudo o que resolvesse sair do mundo líquido.
A história que vamos contar ocorre no reino dos Eucaria sob o domínio de Tétis, a protectora deusa das águas. Nesses tempos, os mundos submersos eram dominados pelo imperador EUCARIOL – UNI - III.
Este soberano dominava os súbditos pela força. Era um tirano implacável e predador que provocava temor geral pelas suas grandes dimensões e rapidez de movimentos, apesar da sua forma rotunda. Ao passar pelos demais, ele sobressaía pelos seus compridos braços flagelados que ondulavam como mantos, culminando numa magnífica coroa ciliada que refulgia à luz de Hélia. A maioria dos seus súbditos tentava manter uma distância de sobrevivência, mas muitos não escapavam à sua insaciabilidade.
Neste reino todos os habitantes eram transparentes. E, portanto, não era nada agradável vislumbrar, apesar dos contornos se esbaterem, o que acontecia a todo aquele que lhe servia de alimento.
O imperador EUCARIOL estava provido de uma complexa rede interna de labirintos membranares e, fora das refeições, num estado de maior limpeza interior, o fervilhar de toda a sua actividade interna transparecia, comandada pelo seu fantástico cérebro nuclear. Muitos dos que o rodeavam eram-lhe semelhantes na estrutura, mas ele era, sem dúvida, o melhor adaptado dentro do seu género.
EUCARIOL era o soberano por ser o mais receado, mas a família real continha outros membros que não sendo tão temidos eram muito mais admirados, senão adorados, porque não tiravam a vida. Pelo contrário, facilitavam-na. Deve ser referido que estes outros membros da realeza eram parentes afastados do imperador, pois faziam parte de outra genealogia que há muito se tinha separado, a linhagem dos EUCLORA.
Estes indivíduos não eram inferiores, na sua magnificência, ao imperador. Tal como ele, a sua transparência ostentava finas pregas membranares que se matizavam de verde tanto mais cintilante quanto mais próximos da radiação da estrela Hélia. Esta linhagem não era tirânica. O seu objectivo consistia em recriar a vida todos os dias, construindo novas moléculas que eram a fonte de alimento para todo o império. Esta qualidade fazia deles os mágicos do reino e o próprio imperador respeitava-os. Assim, embora este não se fizesse rogado em capturar um EUCLORA, sabia, no fundo, que o seu reinado sucumbiria sem a sua presença.
A divisão nas linhagens tinha ocorrido há um longo tempo atrás, na época das rivalidades internas do povo anterior do reino, os PROCARIA. Nessa altura, os EUCARIA ainda não tinham aparecido, contando as lendas antigas que o mundo submerso era apenas habitado por aqueles que agora não passavam dos mais humildes. Formavam um povo pequeno, faltava-lhes a exuberância da forma e nem sequer tinham um cérebro nuclear. Apesar disto, contava-se que os EUCARIA eram os seus descendentes. Nas míticas lutas que os PROCARIA tinha travado entre si, alguns tinham ingerido outros e, não sendo capazes de os digerir, passaram a incluí-los dentro de si como hóspedes. Esta associação teria resultado benéfica para ambas as partes e dela teriam evoluído as duas linhagens EUCARIA e EUCLORA ambas com maior capacidade para gerir a energia disponível e de transformar pela luz (EUCLORA), os minerais em novo alimento. Com este processo libertava-se para a atmosfera um gás que já era libertado pelo povo primitivo e perdera as suas qualidades venenosas, o OXANO. Nessa altura ainda ninguém previa as suas futuras vantagens.
O imperador EUCARIOL reinava sobre este mundo e parecia querer fazê-lo para sempre. Os seus conselheiros já lhe tinham falado da importância da sucessão, mas ele nem queria ouvir falar disso, pois sabia que o seu pai, o imperador EUCARIOL-UNI I, tinha desaparecido sem deixar rasto quando ele e o seu irmão gémeo, o príncipe EUCARIOL-UNI II, tinham nascido. Para se tornar imperador tivera de banir o seu irmão e não queria desaparecer pelo facto de ter descendentes. Pensava na sucessão de outra forma. Tinha resolvido pedir a mão a uma das filhas do rei EUCARLO, seu primo próximo. Uma ligação matrimonial à princesa EUCARIALINA talvez o revitalizasse, assegurando-lhe mais tempo de sobrevivência.
Um dia, enquanto cogitava neste assunto, viu , de súbito, aumentar a sua inquietação com a chegada de mensageiros dos confins do reino trazendo a notícia de que estavam a organizar-se grupos de dissidentes para por fim à sua tirania. Mal sabia ele, que se iria entrar na época da guerra das COLÓNIAS.
O seu reinado estava prestes a chegar ao fim.

De que modo foi vencido o imperador EUCARIOL-UNI-III?
Texto de Helena Cruz

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