07 fevereiro 2010

Teoria da Selecção Sexual

Foi proposta pelo próprio Darwin, antecipou a Ciência em 100 anos e escandalizou uma sociedade pouco confiante das capacidades femininas: trata-se da Teoria da Selecção Sexual.

No ano em que se assinala o bicentenário do nascimento de Charles Darwin, o biólogo Paulo Gama Mota revelará a história de uma teoria que revelou um outro lado da "genialidade" de Darwin e dará conta dos últimos avanços no estudo do sexo.

"A evolução é também uma guerra dos sexos", avança Paulo Gama Mota. "As disputas pela reprodução podem atingir níveis de complexidade e refinamento elevados. Os machos de veado vermelho lutam violentamente pelas fêmeas. Em muitos insectos os machos trucidam-se. Noutros casos os machos exibem a sua beleza natural, com caudas grandes e vistosas, que atraem predadores, mas mantêm o seu sucesso por serem preferidos pelas fêmeas. Estas preferem os mais vistosos, ou os que melhor cantam, ou durante mais tempo", explica. Paulo Gama Mota sublinha que a escolha das fêmeas continua a ser um "caso de estudo". "Mas, a guerra dos sexos não termina no acasalamento, porque há muitos comportamentos extra-par como os estudiosos do comportamento vieram a descobrir nas últimas décadas. Mesmo em espécies monogâmicas há muita paternidade extra-par", frisa.

O que é a Teoria da Selecção Sexual? Por que é considerada revolucionária? Por que motivo ficou esquecida durante 100 anos? Como é que hoje influencia a investigação de ponta na área da biologia do comportamento? Investigador dos aspectos evolutivos do comportamento, Gama Mota vai dar a conhecer um outro lado da "genialidade" de Darwin e mostrar como uma teoria traçada no século XIX continua a alimentar a investigação de ponta em Portugal e no mundo.

"A Selecção Sexual aplica-se à evolução de ornamentações em animais. Essas ornamentações, especialmente as caudas longas e as cores vistosas, claramente diminuem a sobrevivência dos seus portadores, mas tendem a prevalecer. E isso, pensou Darwin, seria um paradoxo para a teoria de selecção natural [que defende a perpetuação das características que tornam os organismos mais aptos para sobreviver]", avança Gama Mota.

"Face ao aparente paradoxo, Darwin propôs um mecanismo especial para explicar a sua evolução. Basicamente, as caudas longas podem evoluir se o custo de sobrevivência for compensado por um maior sucesso reprodutivo. Os machos com caudas mais longas, cores mais vistosas ou cantos mais elaborados, seriam mais atraentes para as fêmeas e teriam mais descendentes. E é mesmo isso que se passa", explica o também director do Museu da Ciência.
Para Gama Mota, a Teoria da Selecção Sexual é "mais uma evidência do pensamento genial de Darwin". Porquê? "Porque ele antecipou o que lhe pareceu um buraco na teoria e procurou uma explicação para ele. A explicação estava certa. Mas, com uma honrosa excepção, tal só foi compreendido 100 anos depois, quando a teoria começou a ser testada. Uma antecipação de 100 anos em ciência não é para qualquer um", sublinha.

Por outro lado, avança o investigador, o trabalho de Darwin é desde logo "genial" porque "mudou completamente" o nosso entendimento da natureza viva. "Nada em Biologia faz sentido sem ser à luz da evolução", frisa, citando um biólogo evolucionista."
1.º: porque há evolução, as espécies não foram criadas tal e qual.
2.º: porque há competição: se as árvores cooperassem entre si não teríamos bosques com árvores de 30 metros, cada uma a tentar obter mais Sol para si.
3.º: porque todos os organismos evoluíram de antepassados comuns que viveram há milhares de milhões de anos, isto é, somos todos primos, embora em grau diferente.
4º: porque colocou a origem do Homem como ser biológico no seio da natureza, fruto de um longo processo evolutivo.
5.º: porque antecipou muito do conhecimento que viemos a ter. Sexto Porque a sua teoria foi das mais férteis em ciência, dando origem a uma massa de investigação e de produção de conhecimento incomparáveis".

Informação do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra - De Rerum Natura

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